quinta-feira, 29 de julho de 2010

Rugas

Angústia, medo, sonhos que são apenas sonhos, era isso que ela sentia naquela manhã de inverno. Não estava frio, nem calor, apenas uma temperatura amena, como tudo naquele dia. Seria somente naquele dia? A vida estava mediana, tal qual a temperatura e o céu daquela manhã.
Ela se olha no espelho e não possui mais sonhos, não tem mais ilusões. O beijo já não significa muita coisa, o sexo é apenas rotina.
Mistérios, emoções e desejos não existiam mais e isso a corroía, como o ácido corroe a face da senhora enrugada. É exatamente isso que são as rugas, sonhos perdidos, desejos não consumidos, romances despedaçados.
Ela não queria admitir, mas sabia que tudo estava acabado havia muito tempo. Sentia a brisa entrar pela janela e secar suas lágrimas, mas ela queria sentir seu rosto encharcado.
Tudo que lhe restava eram migalhas espalhadas pelo sofá puído, assim como sua pele. As rugas não mentem, estão ali para mostrar o que não se quer ver, mas todos percebem, todos observam aquela pele manchada, machucada e esquecida.
Assim será sempre, não adianta tentar esconder, maquiar ou injetar, elas sempre voltarão, afinal elas fazem parte de seu ser, por mais que se tente. Você pode deformar, mas nunca irá se livrar.

2 comentários:

  1. Agora sim!!!!
    Não deixe jamais de postar aqui, amo ler os seus contos.
    Beijos Cy

    ResponderExcluir
  2. Que coisa... Rugas decididamente sao desesperadoras... Mas ler esse texto seu e dando uma olhada nos outros, me pergunto: POR QUE TAO CURTO?
    Bjos
    Lívia

    ResponderExcluir