terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Cimento

Ninguém nunca te disse que seria fácil, mas ninguém nunca te disse que seria tão difícil. Ando sem rumo, perdida, angustiada, com medo de cada pedra, de cada pétala, ando mesmo estando parada. Teria me precipitado? Será mesmo que escolhi o meio certo? O avião não irá parar para eu poder descer e isso me deixa sem ar, sinto minha garganta fechando, procuro loucamente algo para aliviar essa sensação, mas só o desespero está me esperando do lado de fora.
Ninguém me responde, afinal ninguém me ouve e fico sem saber. Por que dói tanto? Quais as revelações ainda não foram desmascaradas?
Nem é mais noite, a manhã já chegou e com ela o cinza do concreto. A fuligem já está diluída em meu sangue e o cimento faz parte do seu coração. Em que momento o salvador virou carrasco? Quando os andaimes substituíram as árvores?
As palavras ecoam no vazio da sua alma, batendo fortemente no seu coração endurecido pela cidade. Eu poderia ficar aqui eternamente e tentar reconstruir a selva, eu até estava me acostumando com a vida selvagem. Não irei. A solidão não me assusta, ela é minha parceira e assim para sempre será.
Na sua insensibilidade, no seu egocentrismo você não percebeu minha fragilidade, não soube cultivar o que já havia plantado, tudo está morto agora. Recolha os cacos de vidro e faça uma nova vidraça, quem sabe o luar faça alguma concessão ao seu asfalto fétido.
Eu era apenas uma pequena, agora sou apenas insignificante nesse seu novo mundo, por isso me recolho a escuridão da noite, que sempre lá estará, a me esperar.