quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Libertação

Eu era apenas uma garotinha mimada e riquinha, me sentia oca e foi então que você chegou com seu jeito encrenqueiro e me fez querer fugir, afinal uma moça como eu não pode se envolver com um garoto igual a você. Estava tão errada, tão cega e quando menos percebi você já tinha roubado meus mimos e com eles se foram minhas ilusões, meus sonhos de mocinha indefesa.
Você me fez forte, mostrou quem eu verdadeiramente era por baixo do rostinho de boneca. Você me amarrou com seus cadarços velhos e ainda assim eu me sentia livre.
E foi naquela bela e sufocante tarde de verão que você fez minha cabeça fervilhar, minha mente não comandava mais meu corpo, o suor escorria mas eu não o sentia, não sentia mais nada. E foi assim que a garotinha fútil e tola se tornou uma mulher brava e guerreira.
Desfiz o nó e me soltei do seu cadarço sujo e cheio de fiapos. Eu senti mais, quis mais, as ruas e avenidas do bairro eram agora vielas e você querido não foi páreo para mim.
Tarde demais, não adianta mais me dar seu álcool, ópio e éter, não sou mais sua, não sou de mais ninguém, apenas minha mesmo.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Esperanças?

Olhar vazio, toque escorregadio, lábios que se tocam com estranhamento. Assim a folha vai sendo levada pelo vento, sem lutar, sem sentir, apenas se deixando levar. A taça mostra os restos da amargura sentida e não revelada.
Caminhada sem destino, sem sentido, sem tato, sem perfume, sem frio, sem calor, apenas passos que ecoam no vazio do peito.
Devaneios, ilusões, sonhos fragmentados, pesadelos lembrados, assim vai o meu caminhar nessa labuta diária.
Vivo sem mais sentir, vivo sem mais querer, vivo sem mais ter. A alegria não reside mais em mim, tento através da desilusão, da mentira e da falta de sentidos achar o fio que conduzirá o choque.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Metrô

Entre, saia, respire, libere o ar, a energia e a saída. Ame e odeie, mas cuidado para não cair no vão. Suba, vire e revire os conceitos.
Mantenha o contato, mas respeite o espaço alheio, respeite a vida.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Surdez

Minha garganta está seca, arranhada e desfigurada. Cansei de gritar em vão, as palavras voam e ninguém as ouve. Estou só, anseio por ser ouvida, mas somente o silêncio me acompanha. As letras não formam palavras que não formam frases, que não importa pois todos estão surdos.
A surdez é generalizada, come as orelhas como um verme deseja a carne.
Ainda restam lágrimas, vou libertá-las em busca de conforto ou de um anonimato final.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Desejos

Me mostre sua alma, me deixe embriagada de amor, tire essa máscara e se mostre para mim. Eu sei que por trás dessa serenidade existe loucura e êxtase.
Quero momentos de prazer sem compromisso, sem preocupações mundanas, apenas sensações. Sentir o cheiro do prazer, sentir você e eu, simplesmente assim, sem toques aveludados e ações racionais, quero apenas o sentir primitivo a ação pela sensação.
Revelo os segredos profundos, simplesmente me entrego face ao inevitável.
Te quero, te desejo, te odeio, te admiro, te suplico, te desprezo.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Desistência

As noites correm, tento alcançá-las mas meus membros são curtos. Não desisto, porque não sou dessas que desiste facilmente.
O amor não simplifica, amplifica e complica, mas não desisto facilmente. As grossas gotas de orvalho derrubam as pequenas folhas, assim como sua indelicadeza arranha minha epiderme.
Não, não vou desistir. A terra entrará lentamente em meus pulmões me sufocando, fazendo todos os meus sentidos sem sentidos e talvez assim eu desista. Mas mesmo assim isso é só um talvez.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Viagem

Estava uma noite agradável e ela adormeceu rapidamente, no meio da madrugada algo a incomodou e ela se levantou. Seu corpo permanecia ali na cama, imóvel, num aparente sono profundo. Ela se sentiu perdida, angustiada, mas ao mesmo tempo livre.
Percorreu sua casa como se fosse a primeira vez, passou por seu cachorro que pareceu sentir sua presença ali. Resolveu então caminhar pelas ruas e pela primeira vez ela andou pela madrugada sem medo algum. Estranhamente ela se sentiu segura e serena. Não compreendia o que estava ao certo acontecendo, mas se entregou àquele momento.
Passou por um jovem casal que namorava dentro do carro, observou casas com luzes acessas e também se entristeceu com o menino que dormia debaixo da marquise. Detalhadamente ela percebeu a cidade com suas belezas e tristezas. Resolveu então ir até a casa onde passou sua infância, conhecer seus habitante e hábitos, porém ao chegar no portão da casa sentiu como se o chão se abrisse e ela estivesse sendo sugada, caindo em queda livre.
Ao abrir os olhos estava novamente em sua cama, mas dessa vez sentia seu corpo. Não sabia o que havia acabado de acontecer, aparentemente foi um sonho, mas ela não sentia como se fosse um sonho, ela sabia que tinha realmente vivido aquele momento, perdeu a noção do tempo, mas sentia a realidade ainda pulsando em suas veias.
Agora ela aguarda ansiosa poder viajar novamente pelo seu astral e cada vez conhecer e desvendar mais mistérios.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Fogo

Despertei assustada com um barulho incomum. Fui observar na janela para tentar entender o que estava acontecendo, foi quando me dei conta que estava muito quente, mas era inverno e a temperatura estava em torno de 11º quando fui dormir. Ao abrir a janela uma avalanche de fumaça invadiu meu quarto, com certa dificuldade consegui me reestabelecer e pude observar o que acontecia.
Fumaça saindo de diversas janelas, tanto do meu prédio quanto dos prédios ao redor, pessoas nas ruas, calçadas, sacadas e nos beirais. Todas ansiosas e gesticulando muito.
Senti o desespero me invadir, não sabia o que fazer, não sabia se corria risco. Inesperadamente uma labareda saiu pelo duto onde passavam os fios de telefone, me amedrontei ainda mais. Voltei para a janela e ao ver o carro do bombeiro se aproximando consegui para um pouco de tremer. No entanto eram mais de 4 prédios com focos de incêndio ao redor, apenas um carro não era o suficiente e comecei a entrar em pânico. De repente dúzias de bombeiros invadiram as ruas do bairro. Conseguiram abrandar o fogo e nenhuma vida foi levada.
Não há explicações racionais e técnicas para o que aconteceu naquela madrugada de inverno, até hoje são procuradas pistas que possam levar ao esclarecimento desse mistério pavoroso. Todas as buscas falharam.
Só nos resta esperar que as marcas deixadas por esse episódio um dia sumam de nossos corpos e mentes.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Amor incondicional

O sol brilhava naquela manhã de outono, caminhava pelas ruas totalmente despretensiosa. Faço uma parada na padaria para tomar um café e nesse momento o cheiro do pão fresquinho me remete a lembranças juvenis, quando acordava na manhã de sábado e minha mãe me esperava sorridente com o café da manhã. A rotina da minha mãe era sempre a mesma, diversas tarefas domésticas, os filhos e o marido. Muitas vezes alguns não colaboravam, mas ela sempre desempenhou suas funções com dedicação, alegria e muito amor. Sempre houve uma palavra de apoio e carinho, embora a correção ao erro estivesse presente nos momentos necessários. Penso nessa mulher forte com admiração. Talvez não nos damos conta ou deixamos passar com os afazeres diários as pequenas coisas, os verdadeiros significados em nossas vidas.
Será que demonstramos para quem realmente merece o quão importante essa pessoa é? Será que dedicamos tempo suficiente da nossa atribulada vida às coisas que realmente farão diferença no futuro?
O rapaz da padaria me faz voltar ao balcão, meu café chegou. Sorvo cada gole do café com um sorriso saudosista e com a certeza que está na hora de tentar demonstrar o amor que sinto e a importância das pessoas que realmente fizeram e fazem a diferença em minha vida.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Veneno

Caminhei lentamente pela madrugada chuvosa e fria. O Chuvisco atrapalhava minha visão, foi quando cai num bueiro. Senti o lodo alisar meu corpo, tive nojo, tive medo. A queda foi muito mais longa do que eu esperava e foi amortecida por uma imensa teia de aranha.
Quando mais eu tentava me soltar daquela teia pegajosa, mais presa eu ficava. Tentei me acalmar e senti que estava sendo observada. Todos naquele ambiente fétido e úmido me observavam.
Fiquei envergonhada, a sensação era de estar nua perante um público casto.
Todos avançaram lentamente e senti o toque aveludado e arrepiante. Senti o gosto da bílis em minha boca, o amargo de uma vida inteira de futilidade e desprezo.
Parei de lutar, me entreguei completamente àquele mundo subversivo, nada mais me resta senão me adaptar.
E ainda agora posso destilar o veneno que me foi dado.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Pensamentos passados

Rostos do passado que adoçam o presente, trazem histórias de alegrias e dores. Experiências vividas e transferidas. O riso que ecoou, o choro que encharcou a vestimenta alheia.
Ações e transformações. Aquela festa, aquele beijo, aquele carinho, a permissão e a perdição. A música ouvida, degustada, que hoje traz recordações, traz à tona a gargalhada e o choro, daquilo que ali dentro se guardou.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Realmente importante

De ontem até hoje momentos se foram, palavras se perderam, houve carinho e faltou carinho, teve choro, alegria, tristeza, sorrisos, ganhos e perdas. O que realmente foi cultivado e o que deveria ter sido? Onde encontrar as pequenas alegrias que somadas são imensas? Filosofias discutidas, teorias aplaudidas, práticas desencontradas.
O milésimo é muito perante as decisões a serem tomadas. Inspire e se inspire, respire, respeite, acredite e grite. Colocamos o diamante, vestimos a seda e respiramos o ópio. Vida finita, sentimentos infinitos.
Pondere cuidadosamente antes da tomada de decisão. Afinal o que realmente é importante para você? Afinal o que realmente queremos e faremos? A decisão é nesse momento, sem mais delongas.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Sem conteúdo

Um rosto sem expressão, uma alma sem corpo, um sexo sem prazer.

Prazeres inesperados

Procuro pelas ruas escuras aquele que um dia me dominou e me fez ver que pode existir prazer sem culpa. Naquela noite eu sai sem grandes pretensões, apenas querendo um bom vinho e um lugar para descansar e pensar.
Entrei em um bar aconchegante porém simples e com pouco movimento. Entre uma taça de vinho e uma petiscada, meu olhar cruzou com de um homem alto, magro e de olhar perdido, me pareceu interessante, mas não me atraiu fisicamente. Sem esperar ele sorriu e eu correspondi, ele veio em minha direção e sentou ao meu lado, logo engatamos uma deliciosa conversa. Depois de algumas horas e taças de vinho, percebi que estava na hora de ir embora. Ele insistiu em me levar para casa e eu aceitei.
A noite acabou e ao amanhecer estava repousando sobre seus braços. Apesar da conversa agradável e da ótima noite, não trocamos telefone e não marcamos mais nada.
E ainda hoje quando estou pensativa, gosto de caminhar e imaginar que qualquer noite o encontrarei novamente.

Palavras

Palavras que ecoam na sala fria e suja. Palavras duras, sem piedade e sem valor. Dizeres que envolvem, mas não realizam.
Palavras profundas que ferem. Destroem a ilusão, os sonhos e a inocência da menina doce e gentil.
As lágrimas que representam todo o diálogo realizado, sons abafados e sufocados que se perdem no ar.
Palavras ditas que deviam ser caladas. Desabafo contido que deveria ter sido realizado.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Doente

Não pense que estou morrendo, estou apenas em coma recuperando as forças, digerindo o álcool, espantando a virose.
A casa feita sobre a areia foi destruída pela brisa marítima e o cachorro sarnento sempre traz alegria.
Não pense que vou ficar imóvel, serei ágil como um furacão, transformarei em pó cada sentimento de dor. Estarei pronta, esperando sua recuperação, mas não me deixarei infectar novamente.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Cinza

Ruas alagadas, pés descalços, cacos de vidros, sangue jorrando. Dor dilacerante, ar envenenado, tempo nublado.
O caos do trânsito enloquecedor, ensurdece, emudece, desfalece. Pessoas alucinadas, sedentas por vingança, clamando vitória.
Não há ganhadores, somente dor, sofrimento e lamurias nessa grande massa cinzenta que envolve todo o meu ser.

Jornada

O Calor estava intenso na madrugada daquele sábado, meus pensamentos vagavam entre um gole e outro da cerveja gelada que descia refrescando meu corpo, mas minha mente fervilhava.
Eu observava a vida intensa daquela noite, as pessoas indo e vindo naquela calçada suja e cheia de histórias. Aos poucos fui imaginando a vida de cada uma daquelas pessoas que em mim esbarravam ou que apenas tomavam sua cerveja.
Onde está minha vida? O que fiz dela? Os sentimentos estão tumultuados, sinto amor, sinto dor, sinto frescor, sinto raiva, sinto felicidade e tristeza. Não sei quem sou e porque estou nesse abismo, cada passo que dou é um convite que essa profunda cratera faz ao meu ser.
Não sei se amo, não sei o que quero. A felicidade me parece distante a cada dia e me apego a pequenos gestos na esperança de recuperar tudo que perdi.
Alertas foram disparados em meio a tornados e calmarias, resta somente seguir adiante, caminhando contra as centenas de pessoas que transitam ao meu redor.
Não clamarei por misericórdia, sentirei cada gota de sangue e suor que essa jornada me proporcionar.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Abdução

A neblina tomava conta da noite, cada passo ecoava no silêncio da madrugada. Alguns corvos se agitaram com o barulho que se aproximava da choupana. Resisti em verificar quem poderia ser naquela hora, visitas inesperadas me desagradam imensamente. Pela fresta da janela tento enxergar alguma coisa em meio ao nevoeiro e percebo que é somente um cervo que se aproxima.
Abro uma garrafa de vinho, sento próximo ao fogo e inicio minha leitura. Sinto meu corpo amolecer, sinto como se tivesse tomado duas garrafas de vinho ao invés de apenas uma taça. Tento levantar, mas é em vão, minhas pernas não suportam meu peso.
Sinto meu estômago remexer, a sensação é que vou desmaiar a qualquer momento.
De repente um vento gelado percorre minha espinha, minha visão está turva, mas consigo distinguir a figura de um casal adentrando em meu refúgio. Desesperadamente em vão tento balbuciar alguma pedido de socorro ou fazer algum questionamento para essas estranhas figuras.
Desmaio imediatamente.
Acordo com a claridade que entra pela janela, com alguma dificuldade consigo abrir os olhos e percebo que estou ainda na sala. Observo a bagunça ao meu redor. Com dificuldade e com a cabeça latejando levanto e inicio a procura por alguma pista, algo que revele quem eram aqueles seres e o que queriam comigo.
Percebo algumas inscrições, talvez em hebraico, não sei realmente, sou totalmente leiga no assunto, mas com certeza não é uma língua conhecida, se é que é uma língua.
Analiso cuidadosamente cada objeto fora do lugar e percebo um forte cheiro de amônia misturada com dama-da-noite. Sem descobrir o que aconteceu naquela noite resolvo fazer um café e pensar mais calmamente.
Tenho algumas marcas em minhas mãos e em meus pés. Reluto em acreditar, mas uma explicação passa por minha mente, após alguns sentimentos confusos e contraditórios sobre a noite anterior, acredito que eu tenha conhecido algum ser desconhecido por nós. Será? Porque não? A memória ainda é ingrata comigo, mas persistirei nessa investigação.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Sentimentos do Coração

Não importa a situação, seja ela difícil ou fácil, nunca me importei, desde que tivesse amor. Mas a definição de amor é algo muito subjetivo, vago e de múltiplas interpretações.
As palavras confundem e ludibriam, mas os gestos, o olhar, o toque, esses são difíceis de camuflar.
O que espero é cumplicidade, apoio, carinho, mas é também admiração e desejo. Alguns sentimentos são opostos, mas se completam de forma espetacular.
Como definir um relacionamento? União de sentimentos e sensações? Não importa qual a definição, o importante é sentir. Quando algumas sensações enfraquecem ou desaparecem, vale ter atenção.
Mas o que importa é sentir. Nem sempre são sentimentos acolhedores, alguns são desesperadores, mas fazem parte do ciclo, com eles se aprende, apesar da dor muitas vezes dilacerante, sempre existe um aprendizado.
Não fale apenas. Faça, pois o que importa é sentir. O que quero? Que sintam por mim também.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Partida

O cérebro incha, o coração se transforma em um caroço, a língua fica seca, na garganta um nó, os pulmões ardem, o estômago se corrói e as pernas viram filetes de gelo que se quebram.
Não enxerguei antes e por isso meus olhos nada mais vêem, somente o cinza. Mudança gradual, desaparecimento súbito.
E o último registro na alma é a partida.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Você

Eu poderia ser sua, mão não serei.
Quando estou trabalhando eu penso em ti, mas você não, por isso não serei sua. Quando acordo, me arrumo e me perfumo pensando em você, mas você não está pensando em mim. Quando viajei pensei em ti, quando adormeci pensei em você, quando acordei lembrei que havia sonhado com você. Não estudei pois estava pensando em você, não lembrei que estava de regime, comi sem perceber pois meus pensamentos estavam com você.
Desisto, já me rendi, sou toda sua, mesmo você não sendo em nenhum momento meu.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Encontros da vida

A noite estava agitada, ela tinha diversos amigos ao seu redor porém se sentia só, não tinha vontade de conversar e seu sorriso saia mecânicamente. Ela queria fugir dali, não queria ninguém por perto, não queria ouvir, nem ver, muito menos falar.
Saiu do local discretamente para evitar maiores detalhes, foi caminhando em direção a sua casa, não percebia as pessoas ao seu redor, só sentia o vento embaralhando seus cabelos. Ao chegar em casa nem se deu ao trabalho de aceder a luz, apenas se jogou no sofá e se rendeu as lágrimas. Sentia uma dor insuportável em seu peito, parecia que todos no mundo haviam sumido e apenas ela, ali em sua sala escura ainda vivia, mas ela não queria viver, queria sumir também, queria arrancar aquela dor do seu peito e poder respirar tranquilamente. Sempre foi uma mulher alegre, sorridente, sempre disposta a ajudar, as vezes esquecia de si própria para ajudar alguém e agora que ela mais precisava não havia ninguém no mundo capaz de estancar as lágrimas que percorriam sua face, de acalmar o coração que palpitava aceleradamente em seu peito e a fazia sufocar.
O mundo havia tirado de seu ventre a vida que estava germinando e isso era algo que ela jamais poderia superar. Ela tinha ódio do mundo e tudo que queria nesse momento era vingança.
Resolveu se vingar do universo, saiu em disparada, buscou algo para se vingar. Na busca pela vingança ela encontrou uma jovem caminhando sem rumo, assim como ela.
A jovem estava tão desesperada quanto ela, no entando pelo motivo justamente oposto, ela tinha uma vida para cuidar, mas não tinha tempo hábil para poder criar uma nova vida, estava só e seu tempo nesse nosso mundo era curto.
Resolveram então unir forças e assim amenizar suas dores. Após cinco meses de apoio, conforto e esperanças mútuas nascia uma nova vida. Ela sabia que a jovem, onde quer que estivesse estava serena e feliz, pois era isso que ela sentia serenidade e felicidade.

sábado, 22 de agosto de 2009

Gostosa noite

Era uma noite comum como outra qualquer, o dia havia sido exaustivo e a única coisa que eu queria era jantar tomando um bom vinho e finalizar a noite com um filme.
O rapaz que eu estava saindo a algum tempo me convidou para jantar em seu apartamento, no início fiquei declinada a recusar, afinal estava muito cansada, mas meu sentimento por aquele homem crescia a cada dia e eu não queria desperdiçar nem um momento de sua companhia. Convite aceito, sai do escritório e fui ao seu encontro. Ao chegar lá ele havia preparado um delicioso macarrão, que era sua especialidade. Saímos para alugar um filme e comprar bebidas e sobremesa, estava tudo fluindo tão bem que senti até um certo medo.
Passamos uma noite gostosa e divertida, mas eu precisava ir embora já era tarde e estávamos cansados. Ele insistiu para que eu ficasse com ele, para que não fosse embora. O cansaço e seus apelos carinhosos me venceram, resolvi ficar.
Me deitei em seus braços e rapidamente adormecemos. Acordo no meio da madrugada com uma voz, ainda sonolenta percebo que é ele que está resmungando alguma coisa, curiosa com a situação tento estabelecer uma conversa com ele, mas não obtenho êxito, afinal ele está falando coisas de seu trabalho e eu não consigo compreender do que se trata. Resolvo levantar e assistir um pouco de televisão, quem sabe assim não consigo dormir novamente.
Fico alguns instantes observando aquele homem com jeito de menino que dorme profundamente ao meu lado e sinto que essa será a primeira de muitas noites divertidas e mal dormidas, que com certeza farão diferença em minha história de vida.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Sentir

O que sinto nessa noite solitária e fria não é medo, não é indiferença, não é alegria e muito menos é tristeza. O sentimento que me invade é de raiva, dor e desprezo.
Preferia não ter te visto naquela noite, não ter realmente olhado no fundo de seus olhos dissimulados e ter me entregado. Você é como um parasita, sugou toda minha alegria, minha energia de viver, você apenas se alimenta da minha felicidade, dos meus sonhos, da minha juventude.
Sinto que estou presa e não consigo me libertar, quero voltar a sorrir, quero que as lágrimas parem de rolar em minha face. Tenho vontade de gritar bem alto, mas minha voz não sai, não sou ouvida, ninguém me reconhece, ninguém sabe quem sou eu.
Enquanto procuro a chave para minha libertação vou caminhando vagarosamente como um zumbi, como um vampiro que desesperadamente procura se alimentar.
É hora de dizer adeus, nada mais me resta senão despir toda essa amargura e repousar em busca dos melhores sonhos já sonhados.

Cabana

O céu estava lindamente estrelado, fazia muito frio naquela noite, apenas a fogueira me aquecia. Ter saído para caminhar na floresta, sem mapa, sem guia, foi uma péssima ideia. Meu corpo estava cansado e dolorido, mas sabia que logo amanheceria e o sol voltaria a aquecer minha pele.
Estava encolhida numa árvore a espera do amanhecer, quando ao longe vejo uma luz, resolvi me levantar e tentar chegar até lá, afinal poderia ser uma cabana ou alguém que saberia me tirar daquele lugar.
Ao chegar próximo ao local da onde vinha a luz tive certeza que meus instintos estavam corretos, era mesmo uma cabana. Vagarosamente para não assustar um possível morador me aproximei da cabana e bati levemente na porta em busca de abrigo para aquela noite gelada.
Quem atendeu ao meu chamado foi uma senhora de cabelos brancos, sua face parecia sofrida e séria, mas fui recebida de maneira muito gentil e educada.
Relatei a ela o ocorrido e ela me ofereceu uma xícara de chá bem quente para me aquecer, prontamente aceitei sua oferta.
Na cabana havia poucos móveis, todos muito rústicos. A gentil senhora chegou com o chá, sentou-se ao meu lado e logo iniciamos uma deliciosa conversa. Minha curiosidade estava aguçada e então perguntei qual era sua história, porque vivia tão isolada e solitária naquela cabana no meio de uma floresta, sem nenhum recurso. Ela me relatou que vivia ali com o marido, que era lenhador, nunca conseguiu ter filhos, por isso viviam sozinhos, mas bem, até que inesperadamente ele adoeceu. Nesse momento sinto que seu semblante ficou sério e de certa forma sombrio. A doença, segundo a senhora, avançou rapidamente deixando seu esposo cada vez mais instável, ele vivia momentos de lucidez e outros de total insanidade, até que um dia a esfaqueou e cortou a própria jugular. Senti minhas pernas ficarem bambas, minha visão ficou turva, mal conseguia ouvir o que ela falava.
Senti uma grande claridade em minha face, abri os olhos e percebo que estou deitada no meio da floresta, o dia já amanheceu. Ainda zonza me levanto lentamente, não consigo me lembrar de como fui parar lá novamente. Será que falei ou fiz algo que fizesse aquela mulher me expulsar de sua casa? Olho ao redor e não consigo achar a cabana, mas percebo que ao meu lado no chão tem um papel velho, um pouco amassado, abro e vejo que é um mapa. Com grande dificuldade consigo me localizar no mapa e acho o local onde estava acampada com meus amigos.
Ao me aproximar do acampamento, estão todos agitados, inclusive alguns guardas florestais estão por lá. Sou recebida de forma calorosa por meus companheiros e pelos guardas, estavam todos aflitos com meu sumiço.
Após ser atendida pelos guardas e me reestabelecer pergunto a eles sobre a cabana da floresta, se eles sabem quem é a pessoa que mora lá. Eles se entreolham e me falam que naquela cabana vivia um casal de lenhadores, mas que o marido enlouqueceu e se matou após ter matado sua esposa.
Senti que iria desfalecer. Como era possível não ter ninguém morando naquele local? Eu conheci a senhora, tomei chá com ela e ouvi sua história, não estava alucinando, como seria possível eu saber da sua história e ainda por cima ter ganhado um mapa dela? Mostrei o mapa para o guarda e perguntei se ele tinha certeza que o local estava abandonado, se não haveria alguma pessoa da região que estava morando lá? Eles me garantiram que faziam a ronda a cada quinze dias no local e tinham certeza que a muitos anos a casa estava completamente vazia. Nesse momento eu não questiono mais nada, apenas deixo eles partirem.
Só tenho a agradecer a senhora que me ajudou num momento de grande dificuldade e risco de morte, esteja ela onde estiver.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Misteriosa mulher

Noite fria e chuvosa, ótima para ficar em casa debaixo da coberta assistindo filmes e comendo pipoca. Preparo a pipoca e coloco o dvd pra rodar. Estou exausta o dia foi cansativo no trabalho, muitas reuniões, acabo adormecendo antes do final do filme.
Desperto ao som de trovoadas, estou ainda sonolenta, levanto e me caminho cambaleante até a janela para observar o céu chuvoso e riscado pelos raios. A rua está deserta, nenhum carro, nenhum transeunte, nenhum sinal de vida. Inesperadamente ouço um grito feminino, procuro em meio as grossas gotas de chuva saber o que está acontecendo, mas não obtenho êxito em minha tarefa. Fico muito perturbada com o grito, alguém poderia estar precisando de ajuda, coloco uma galocha, capa de chuva e saio para tentar achar a autora de tão desesperado grito. Ando por todo o quarteirão e continua vazio, não encontro ninguém e também não ouço mais nada, somente os trovões que estão se afastando e a chuva que está diminuindo. Caminho mais lentamente esperando o cessar da chuva para poder observar mais calmamente os cantos e quem sabe achar a pessoa que gritou. Finalmente a chuva para totalmente e agora com melhor visibilidade consigo enxergar. Sentada num canto de uma casa que está para alugar está uma moça magra e pálida, com um olhar muito assustado. Me aproximo dela e pergunto se foi ela quem gritou e se posso ajudá-la, ela se encolhe mais, mas acena um sim com a cabeça. Percebo que sua roupa está suja de sangue e digo que irei até o telefone público solicitar socorro, ela não responde nada, continua sentada, encolhida e assustada.
Corro em direção a esquina onde tem um telefone público, ligo para a polícia e conto o ocorrido, eles pedem para que eu fique junto da moça até chegar o socorro. Então volto para tentar conversar e quem sabe obter alguma informação sobre o ocorrido e também para não deixá-la sozinha a espera de ajuda.
Chego na casa e para meu total espanto a moça não está mais lá, olho o local onde ela estava sentada e não possui uma gota sequer de sangue. Desesperadamente saio a sua procura, não poderia ter ido muito longe, estava muito machucada pela quantidade de sangue que vi em suas roupas. Procuro em todos os lugares e não encontro nem vestígios da tal figura misteriosa. O socorro chegou e eu extremamente assustada e envergonhada vou explicar o que aconteceu a eles. Com um olhar de reprovação eles me pedem para ir pra casa, posso ver em seus olhares que acham que estou louca ou sob efeito de alguma substância que alterou meus sentidos.
Totalmente incomodada vou para minha casa, tomo um banho quente, um chá e tento me acalmar, tento encontrar as resposta para tudo que acaba de acontecer, mas não as acho.
No dia seguinte converso com todos os vizinhos que encontro sobre a chuva e pergunto se algum deles ouviu algum grito, mas ninguém ouviu grito algum.
Mas eu tenho certeza do que ouvi e vi e até agora estou intrigado com aquela estranha. O que realmente aconteceu a ela? Para onde será que ela foi? Por que não esperou o socorro? Seria alguma fugitiva? Acredito que não, pelos menos não aparentava ser, bem essas são questões que não tenho as respostas, mas espero um dia as ter.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Encontro

Era noite de festa na faculdade, ela o convidou, mas se questionava se ele iria, sabia que ele não gostava muito de sua companhia, por algum motivo que ela não sabia explicar todas as vezes que eles conversavam acabavam discutindo sem grandes motivos, sempre por picuinhas. Ela gostava de conversar com ele, tinham alguns gostos parecidos, mas inexplicavelmente algo não deixava essa amizade se aprofundar, então ela resolveu convidá-lo para uma festa, talvez em um ambiente mais neutro poderiam conversar e quem sabe nascer daí uma grande amizade.
Enquanto aguardava ansiosamente observava os garotos da festa, nenhum chamava sua atenção, pareciam todos muito infantis para ela que já era tão mulher.
Alguém começa a cantar magnificamente, isso chama sua atenção e quando ela se vira lá está ele cantando uma balada romântica, ela jamais poderia imaginar tão bela voz, tanto sentimento de carinho e tristeza. Naquele momento ela percebeu porque eles tanto se desentendiam, era medo, estavam apaixonados e não queriam admitir, não estavam deixando esse sentimento avassalador tomar conta de seus corações.
A música acaba e ele se aproxima dela sorrindo um riso tímido, ela sorri abertamente e o abraça sem dizer nada.
A noite estava apenas começando, melhor não dizer nada e deixar as coisas fluírem. Eles cantam, dançam, conversam e gargalham como um casal apaixonado, mesmo não tendo nenhum contato corporal, eles sabem que pertencem um ao outro, nem que seja somente por esta noite.
A festa está acabando, mas a madrugada ainda está apenas começando. Ele se oferece para levá-la para casa e ela aceita prontamente, ao chegar no portão de sua casa eles não conseguem mais segurar o sentimento e o beijo finalmente acontece, foi um beijo tímido de início, mas que evolui deliciosamente.
Amanhece, ela delicadamente abre seus olhos e ao olhar para o lado encontra ele dormindo gostosamente, ela então sorri com ternura e felicidade, pois sabe que está amando e que eternamente será amada.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Noite Magnífica

A noite está magnífica, penso que o melhor seria sair e observar as pessoas, nada melhor que uma cervejinha para acompanhar a entrada da madrugada. Coloquei uma roupa confortável e apresentável e rumei para o bar. Chegando lá percebo que muitas pessoas tiveram a mesma ideia que a minha, no entando o local está agradável, som ambiente e mesas disponíveis. Ocupo um lugar próximo ao telão para apreciar minha cervejinha assistindo o dvd que está sendo exibido, é um show antigo de uma banda clássica de rock.
Acaba o show e então resolvo olhar as pessoas nas mesas ao redor, cada grupo ou indivíduo com suas peculiaridades, é então que meu olhar cruza com o de um rapaz alto, moreno e muito bonito, barba por fazer, parece um homem que acabou de se graduar e está em seu primeiro trabalho efetivo, está reunido com um pequeno grupo e aparentam trabalhar juntos. Algo nesse moço chamou minha atenção, tinha um olhar de responsável mas ao mesmo tempo juvenil. Fico constrangida pois estou a alguns minutos o observando e percebo que tanto ele quanto as pessoas em sua mesa perceberam isso, desvio o olhar e absorvo o último gole de cerveja que havia em meu copo. Procuro o garçom para pedir mais uma e talvez um petisco, mas parece que o atendende não percebe que estou solicitando sua presença e fico eu ali, acanhada, esperando ser notada. Cansada de ficar a espera do garçom decido ir ao caixa fechar a conta e caminhar.
Estou caminhando distraída quando sinto que alguém se aproxima de mim, desconfiada olho para trás e vejo que é o rapaz dos olhos hipnotizantes. Um misto de sentimentos me invade, medo, felicidade, desconfiança e ansiedade. Ele sorri para mim, seu sorriso é cativante tanto quanto seu olhar, não resisto e correspondo ao seu sorriso, ele se aproxima, se apresenta e pede para me acompanhar, tento resistir mas o desejo de ter sua companhia é mais forte do que o medo e acabo aceitando.
Adormeço sentindo seus braços me envolvendo, seus beijos, suas mãos, é a noite realmente foi magnífica.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Hotel

Hoje o por do sol foi magnífico, acabei de jantar e me direcionei a janela para acompanhar os últimos raios solares, nessa época do ano o sol demora muito para descansar por esses lados. O melhor a fazer após essa linda imagem é saborear um vinho e assistir um bom filme até que o sono feche minhas pálpebras.
Após dois filmes e uma garrafa de vinho eu continuo acordada e já é madrugada, melhor mergulhar na leitura, a televisão já não passa nada que possa me interessar. Ligo o som bem baixo para não incomodar os demais hóspedes e inicio minha leitura.
Alguns capítulos depois ouço um sussurro mas não compreendo bem, provavelmente são os meus vizinhos de quarto. Novamente o sussurro, dessa vez parece estar mais perto, fico intrigada, resolvo desligar o som. O silêncio reina no quarto e inesperadamente eu sinto um frio congelante. Verifico o ar, está desligado, a janela está semi aberta mas o calor lá fora é grande. Talvez eu esteja cansada e nada mais que isso.
Alguns corvos que resolvem repousar na varanda do meu quarto estão agitados e soltam seus típicos sons que ecoam pelas ruas. Resolvo me deitar, quem sabe o sono não aparece. Adormeço alguns minutos após me deitar, mas um grito me desperta abruptamente, levanto e vou tentar descobrir do que se trata, afinal alguém pode estar em perigo. Olho pela janela e a rua está vazia, assim como o corredor do hotel.
O hotel é antigo possui corredores largos e extremamente compridos, toda a decoração possui tapetes e cores fortes, lembra muito o hotel de um filme de terror que assisti quando adolescente, um filme muito bom e conhecido. Neste momento sinto um ar em minha nuca, me viro bem devagar e era uma moça muito pálida, parecia que estava vestida com roupas de housekeeper, porém parece um pouco diferente das atuais e mais velhas. Pergunto se posso ajudá-la, se foi ela quem gritou, se está precisando de alguma coisa, ela nada responde, apenas caminha pelo corredor até eu perdá-la de vista.
Melhor dormir, se ela precisar de mim sabe onde me encontrar.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

O mar

O vento sopra pedaços de canções vindas dos sambas que são cantados ao longe. A lua ilumina o céu e as estrelas parecem repousarem sobre o mar, a areia fina penetra no corpo timidamente.
Como são vívidas e alegres as noites de verão, a cidade não repousa, a cidade está alegre demais para adormecer. Casais se aventuram sobre as dunas e tornam as noites ainda mais quentes. Observo o mar se agitar com os ventos, parece que ele me chama, parece que me quer, que quer lamber minha pele e absorver meus pensamentos. Tantos se entregaram aos encantos do mar e hoje são estrelas, as mesmas que repousam sobre ele. O mar encanta, acalma, te consome, até te possuir inteiramente. Adormeço ouvindo seu canto, é um canto que enlouquece e inebria, te alegra e entristece. O misterioso mar e seus cantos me faz sonhar com tudo que vivi, com tudo que viverei se um dia viver.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Rio de sentimentos

O rio estava calmo naquela noite de luar. Resolvi sentar e apreciar a vista da noite no campo, tão serena, tão cheia de vida, a lua iluminava a grama, e principalmente o rio.
As águas corriam serenas, sem nenhuma pressa. Ao longe ouço passos em meio as folhagens, procuro me esconder para pode observar quem vem. Um casal se aproxima, estão tão entregues a paixão que não me enxergam em meio as árvores. Fico observando aquela paixão, aquele frescor do amor recente e me entrego as lembranças. Saudades do tempo em que amava sem nenhuma preocupação, sem nenhum medo, sem pensar no futuro.
Sinto falta do tempo em que me bastavam os beijos apaixonados e as promessas de amor, promessas essas que me fizeram feridas, deixaram cicatrizes, marcas que não se apagam nunca, marcas de amores que se tornaram desamores.
Tanto amei, tanto me entreguei, tantos fiz sofrer, enganei, trai, desiludi. A juventude nos deixa delirantes, nos faz capaz de tudo, mas nos cobra depois, sem vacilar, sem nenhum pesar, sem nenhuma piedade.
Sinto a rebeldia dos tempos de mocidade ardendo em meu peito novamente, sinto que posso amar novamente, que posso ainda errar. Todos podem. Podemos amar, errar, corrigir, sofrer, sorrir doce e amargamente.
Quero sentir novamente aquele arrepio gostoso de medo e paixão. Traga-me mais uma dose desse veneno, é só o que peço. Meu amor, por acaso você já amou ardentemente algum dia? Já sentiu todo poder da paixão? O medo desesperado de perder algo que não te pertence. A vontade de ver, sentir, pegar, ter só pra si alguém?
Vamos nos entregar a esse sentimento sufocante e prazeroso, deixe-me te mostrar quanta vida existe aí dentro. Você diz me amar, mas não, você não sentiu a fúria do amor.
O casal está se distanciando, quase não os vejo mais, me levanto decidida, não vou esperar os raios solares romperem esse céu estrelado, irei agora mesmo te mostrar o que é o amor e se você não estiver disposto a amar, amarei assim mesmo.
Espero que se liberte, que deixe o sentimento fluir, assim como flui o sangue em suas veias. Lutarei por você, mas somente hoje.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Casarão

Noite com temperatura agradável, me arrisco num passeio pelas ruas e becos, nada melhor do que caminhar durante a madrugada, com as ruas desertas e cheia de vida ao mesmo tempo.
Estava caminhando tranquilamente observando as casas do bairro, são casas antigas, com uma arquitetura charmosa, sobrados, casarões antigos em meio a comércios, prédios e casas modernas, isso tudo se mistura revelando um pouco do passado e do presente de cada cantinho. Me deparo com um casarão muito bonito, porém sem nenhuma conservação, talvez sem nenhuma vida. Enquanto observo suas formas, vejo uma luz se acender ao fundo, fazendo reflexo na janela da entrada principal. Será que alguém mora neste lugar? Mas está tão abandonado, sujo, sem nenhum sinal de carinho. A luz se apaga e me deixa intrigada, acho que vou cometer um delito e vou adentrar nesse recinto para saciar minha curiosidade.
O portão está sem nenhuma tranca, se abriu facilmente, assim como a porta dos fundos. Entro e um cheiro forte de enxofre invade minhas narinas, fico levemente tonta, mas continuo firme em minha investida. Estou na cozinha, porém não há nenhum objeto que revele algum morador, além obviamente dos ratos e baratas que me observam com curiosidade. Já que estou cometendo uma insanidade, vou acender a luz para poder investigar melhor os ambientes. A luz, apesar de ser extremamente fraca, desagrada meus queridos companheiros de jornada, então sem a presença dos ratos e demais insetos que procuram se esconder da claridade, caminho solitária nessa jornada.
Vasculho cada canto da casa e não encontro nenhum habitante humano. Mas a casa possui um porão, que estava fortemente trancado, não consegui entrar. Será que alguém está lá se escondendo de mim? Será que foi essa pessoa que acendeu a luz? Talvez esteja precisando de algum tipo de socorro. Ou não será um ser humano? São muitas perguntas, mas meu tempo está ficando extremamente escasso, o dia está para amanhecer e não posso ser vista saindo desse casarão, poderia levantar algum tipo de suspeita, alguém das redondezas pode conhecer seus donos e me entregar, melhor não arriscar mais do que já me arrisquei. Me retiro discretamente do local e volto a caminhar vagarosamente pelas ruas, só que dessa vez meus pensamentos não estão comigo, ficaram lá no casarão.
Existe muita história naquele lugar. Quem eram seus moradores? Porque deixaram um local de tão precioso valor abandonado? São perguntas demais que não querem calar, acho que o melhor é investigar mais profundamente, mas não hoje, agora é hora de repousar.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Realidade

Estou inquieta, sinto meu coração palpitar mais forte, sinto que essa madrugada meus pensamentos não terão outro destino a não ser o de pensar nele. Aquele homem que em tantos momentos de insônia me invadiu, levou consigo toda minha tristeza, toda a angústia e me fez adormecer esplendorosamente.
A madrugada está quente e eu sinto frio, no céu as estrelas parecem sorrir, mas sei que estão todas mortas, assim como meu coração. Investigo o passado em busca das respostas, mas é tudo em vão, nada me acalenta, minhas entranhas estão expostas.
Quem é você ? Por que entrastes assim em minha vida ?
Aquele ser que conheci em uma noite de primavera e que tantos dias embriagantes de verão me trouxe alegria, existiu algum dia ?
A brisa noturna invade o quarto, faz a cortina balançar ao som dos meus soluços, a lágrima salgada lava minha face desfigurada. Não resta nenhuma alternativa, somente encara a realidade da desilusão. Nunca houve carinho, nem tesão, nem promessas de uma velhice honrosa. Só existe futilidade e falta de tempo.
Arranco a máscara de compreensão, me aproximo do espelho e observo. Agora entendo, nada mais resta, somente a realidade, dilacerada realidade.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Vinho ?

A noite estava gelada e chuvosa, a rua está deserta e o céu brilha com os raios. Nada muito instigante na televisão, melhor ler um bom livro.
Aos poucos a chuva vai diminuindo sua intensidade, assim como os raios que brilhavam no céu. O silêncio toma conta da escuridão, apenas a luz do abajur ilumina sua leitura. Repentinamente algo rompe esse silêncio. O som de copo quebrado vem da cozinha, ela se levanta para verificar o estrago, afinal um copo mal colocado no escorredor pode cair a qualquer momento.
Nenhum caco de vidro no chão, nenhum vestígio sequer de copo, prato ou qualquer outra coisa que possa ter causado o barulho. Ela sente um arrepio estranho, algo não está certo. O que teria causado tal barulho ? Sem encontrar resposta para o que acaba de ocorrer ela retorna para sua leitura e adormece.
O dia amanhece nublado, foram apenas duas horas de sono, melhor fazer um café bem forte. A cozinha não possui mais o ar misterioso da noite anterior. Lá está uma taça suja de vinho, mas ela tinha certeza que olhara tudo na noite anterior, não havia tomado vinho naquela noite, como poderia a taça estar suja e a garrafa caída ao lado da lixeira. Ela sente uma angústia, algo não está correto, o que está acontecendo ? Estaria ela enlouquecendo ?
Uma tempestade se aproxima, melhor dormir um pouco mais.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Antes do novo ano se iniciar.

Um novo ano está se aproximando, a cidade está cada vez mais vazia, seus personagens rumam em suas viagens e as madrugadas ficam cada vez mais silenciosas e misteriosas. A rádio está fazendo uma listagem com músicas antigas, estou sem sono mesmo, ficarei apreciando a boa música.
Adormeço no sofá da sala, mas pouco tempo depois desperto banhada de suor. Meus braços estão dormentes, o calor sufoca, mas sinto um incomodo muito maior e não é físico. Onde está o homem que habita meus raros momentos de sono ? Eu podia sentir seus braços, seus lábios, seu corpo me envolvendo. Era tão real, por que despertei ?
Mas este homem está tão distante, é tão irreal, nem mesmo sei se possui um nome. A única certeza que tenho é que senti sua carne e não estou ficando louca, ou será que estou ? Sinto-me culpada, sinto que não posso me entregar a esse prazer tão inebriante. Não é possível te ter, nunca será, foi apenas uma ilusão de noites mal dormidas.
O cansaço invade meu corpo, adormeço novamente. Será que um dia você será real ? Será que um dia será meu companheiro ? Poderei eu compartilhar minhas noites de insônia com tão misteriosa e sedutora figura ?
Quem sabe ?

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Lembranças

A noite está quente, suga meu ar, sinto como se não pudesse respirar, o melhor a fazer é sair e tentar sentir a brisa em meu rosto nessa madrugada tão quente.
Caminho pela cidade, sem rumo, apenas caminho, quem sabe apenas uma volta ao redor da quadra seja o suficiente.
Minha mente está absorta por meus pensamentos, eles divagam assim como eu, sem rumo, sem nenhuma pretensão. Lembro de um ônibus escolar, com diversos adolescentes e seus hormônios em ebulição, a busca pela aceitação, a banalidade gostosa da adolescência. Ela era uma das mais belas do colégio, se destacava pois diante dos corpos em formação, sua beleza era quase de mulher. Ele não era dos mais belos, nem dos mais feios, mas tinha um charme que chamava atenção, seu status perante os demais garotos. Não era musculoso, mas era habilidoso no futebol, continha uma rebeldia perante os superiores e por ser assim destemido chamava atenção dos demais, assim como chamou a atenção da garota. Mas ela não tinha pretensões com ele, pelo contrário, tinha um certo medo. No entanto o desafio chamou sua atenção e ela encarou de forma corajosa e formosa. O que todos achavam impossível aconteceu, eles iniciaram um romance.
A menina agora definitivamente virou mulher, mas mantém até hoje o frescor da inocência.
Algo faz meus pensamentos serem abruptamente interrompidos, são os primeiros raios da manhã, melhor voltar pra casa antes que a cidade desperte.

Filme e madrugada.

Mais uma madrugada fria e solitária se aproxima, sinto que essa vai ser das longas. Procuro algo que me agrada em diversos canais, mas nada parece me entreter. Em um dos canais me deparo com algo que chama minha atenção, é um filme e as cenas são familiares, lógico é um dos meus filmes de terror predileto Pet Sematary. Pronto, achei algo que prende minha atenção.
Passei a apreciar filmes de terror por volta dos 7 anos, no início muita vezes eu tinha medo e recorria ao quarto dos meus pais, mas com o passar dos anos isso já não era mais necessário e passei a compartilhar esse gosto com uma amiga de colégio, passávamos longas tardes e noites assistindo filmes de terror e eu os aprecio até hoje.
O filme já acabou e eu ainda estou sem sono, melhor preparar um café, logo os raios solares vão invadir a sala pela fresta da cortina.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

3:33

Desperto inesperadamente, nada me incomoda, não são as meias, não é a coberta, muito menos a vontade de ir ao banheiro. Por que diabos acordei ? Olho no relógio e são exatamente 3:33, imediatamente penso que esse é um bom horário pra se acordar. Mas por quê ?
Tento mais alguns minutos dormir novamente, mas nada do sono voltar. Ok, levantarei.
O silêncio é interrompido por rajadas de vento, me dirijo a janela e o que vejo são raios rompendo o céu ao longe, mas no meio de tudo isso algo chama minha atenção, um homem está parado no ponto de ônibus, um ponto castigado pelos papeis colados e rasgados e pela má conservação. Mas o que será que faz este homem aí, esse horário e com chuva iminente ? Ele saca um cigarro e o acende. A chuva finalmente chega e passa pelos buracos na cobertura do ponto, o homem se encolhe no canto e continua a tragar seu cigarro. E eu estou absorta por essa figura, não faço ideia do porquê, mas ele me intriga.
O temporal finalmente acalma e o homem que acabou seu cigarrinho se vai, fazendo eu me recolher novamente. Ligo a televisão, logo mais começará um filme de trama policial, hora de preparar um café bem gostoso.
E lá se foi mais uma madrugada.