quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Metrô

Entre, saia, respire, libere o ar, a energia e a saída. Ame e odeie, mas cuidado para não cair no vão. Suba, vire e revire os conceitos.
Mantenha o contato, mas respeite o espaço alheio, respeite a vida.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Surdez

Minha garganta está seca, arranhada e desfigurada. Cansei de gritar em vão, as palavras voam e ninguém as ouve. Estou só, anseio por ser ouvida, mas somente o silêncio me acompanha. As letras não formam palavras que não formam frases, que não importa pois todos estão surdos.
A surdez é generalizada, come as orelhas como um verme deseja a carne.
Ainda restam lágrimas, vou libertá-las em busca de conforto ou de um anonimato final.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Desejos

Me mostre sua alma, me deixe embriagada de amor, tire essa máscara e se mostre para mim. Eu sei que por trás dessa serenidade existe loucura e êxtase.
Quero momentos de prazer sem compromisso, sem preocupações mundanas, apenas sensações. Sentir o cheiro do prazer, sentir você e eu, simplesmente assim, sem toques aveludados e ações racionais, quero apenas o sentir primitivo a ação pela sensação.
Revelo os segredos profundos, simplesmente me entrego face ao inevitável.
Te quero, te desejo, te odeio, te admiro, te suplico, te desprezo.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Desistência

As noites correm, tento alcançá-las mas meus membros são curtos. Não desisto, porque não sou dessas que desiste facilmente.
O amor não simplifica, amplifica e complica, mas não desisto facilmente. As grossas gotas de orvalho derrubam as pequenas folhas, assim como sua indelicadeza arranha minha epiderme.
Não, não vou desistir. A terra entrará lentamente em meus pulmões me sufocando, fazendo todos os meus sentidos sem sentidos e talvez assim eu desista. Mas mesmo assim isso é só um talvez.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Viagem

Estava uma noite agradável e ela adormeceu rapidamente, no meio da madrugada algo a incomodou e ela se levantou. Seu corpo permanecia ali na cama, imóvel, num aparente sono profundo. Ela se sentiu perdida, angustiada, mas ao mesmo tempo livre.
Percorreu sua casa como se fosse a primeira vez, passou por seu cachorro que pareceu sentir sua presença ali. Resolveu então caminhar pelas ruas e pela primeira vez ela andou pela madrugada sem medo algum. Estranhamente ela se sentiu segura e serena. Não compreendia o que estava ao certo acontecendo, mas se entregou àquele momento.
Passou por um jovem casal que namorava dentro do carro, observou casas com luzes acessas e também se entristeceu com o menino que dormia debaixo da marquise. Detalhadamente ela percebeu a cidade com suas belezas e tristezas. Resolveu então ir até a casa onde passou sua infância, conhecer seus habitante e hábitos, porém ao chegar no portão da casa sentiu como se o chão se abrisse e ela estivesse sendo sugada, caindo em queda livre.
Ao abrir os olhos estava novamente em sua cama, mas dessa vez sentia seu corpo. Não sabia o que havia acabado de acontecer, aparentemente foi um sonho, mas ela não sentia como se fosse um sonho, ela sabia que tinha realmente vivido aquele momento, perdeu a noção do tempo, mas sentia a realidade ainda pulsando em suas veias.
Agora ela aguarda ansiosa poder viajar novamente pelo seu astral e cada vez conhecer e desvendar mais mistérios.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Fogo

Despertei assustada com um barulho incomum. Fui observar na janela para tentar entender o que estava acontecendo, foi quando me dei conta que estava muito quente, mas era inverno e a temperatura estava em torno de 11º quando fui dormir. Ao abrir a janela uma avalanche de fumaça invadiu meu quarto, com certa dificuldade consegui me reestabelecer e pude observar o que acontecia.
Fumaça saindo de diversas janelas, tanto do meu prédio quanto dos prédios ao redor, pessoas nas ruas, calçadas, sacadas e nos beirais. Todas ansiosas e gesticulando muito.
Senti o desespero me invadir, não sabia o que fazer, não sabia se corria risco. Inesperadamente uma labareda saiu pelo duto onde passavam os fios de telefone, me amedrontei ainda mais. Voltei para a janela e ao ver o carro do bombeiro se aproximando consegui para um pouco de tremer. No entanto eram mais de 4 prédios com focos de incêndio ao redor, apenas um carro não era o suficiente e comecei a entrar em pânico. De repente dúzias de bombeiros invadiram as ruas do bairro. Conseguiram abrandar o fogo e nenhuma vida foi levada.
Não há explicações racionais e técnicas para o que aconteceu naquela madrugada de inverno, até hoje são procuradas pistas que possam levar ao esclarecimento desse mistério pavoroso. Todas as buscas falharam.
Só nos resta esperar que as marcas deixadas por esse episódio um dia sumam de nossos corpos e mentes.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Amor incondicional

O sol brilhava naquela manhã de outono, caminhava pelas ruas totalmente despretensiosa. Faço uma parada na padaria para tomar um café e nesse momento o cheiro do pão fresquinho me remete a lembranças juvenis, quando acordava na manhã de sábado e minha mãe me esperava sorridente com o café da manhã. A rotina da minha mãe era sempre a mesma, diversas tarefas domésticas, os filhos e o marido. Muitas vezes alguns não colaboravam, mas ela sempre desempenhou suas funções com dedicação, alegria e muito amor. Sempre houve uma palavra de apoio e carinho, embora a correção ao erro estivesse presente nos momentos necessários. Penso nessa mulher forte com admiração. Talvez não nos damos conta ou deixamos passar com os afazeres diários as pequenas coisas, os verdadeiros significados em nossas vidas.
Será que demonstramos para quem realmente merece o quão importante essa pessoa é? Será que dedicamos tempo suficiente da nossa atribulada vida às coisas que realmente farão diferença no futuro?
O rapaz da padaria me faz voltar ao balcão, meu café chegou. Sorvo cada gole do café com um sorriso saudosista e com a certeza que está na hora de tentar demonstrar o amor que sinto e a importância das pessoas que realmente fizeram e fazem a diferença em minha vida.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Veneno

Caminhei lentamente pela madrugada chuvosa e fria. O Chuvisco atrapalhava minha visão, foi quando cai num bueiro. Senti o lodo alisar meu corpo, tive nojo, tive medo. A queda foi muito mais longa do que eu esperava e foi amortecida por uma imensa teia de aranha.
Quando mais eu tentava me soltar daquela teia pegajosa, mais presa eu ficava. Tentei me acalmar e senti que estava sendo observada. Todos naquele ambiente fétido e úmido me observavam.
Fiquei envergonhada, a sensação era de estar nua perante um público casto.
Todos avançaram lentamente e senti o toque aveludado e arrepiante. Senti o gosto da bílis em minha boca, o amargo de uma vida inteira de futilidade e desprezo.
Parei de lutar, me entreguei completamente àquele mundo subversivo, nada mais me resta senão me adaptar.
E ainda agora posso destilar o veneno que me foi dado.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Pensamentos passados

Rostos do passado que adoçam o presente, trazem histórias de alegrias e dores. Experiências vividas e transferidas. O riso que ecoou, o choro que encharcou a vestimenta alheia.
Ações e transformações. Aquela festa, aquele beijo, aquele carinho, a permissão e a perdição. A música ouvida, degustada, que hoje traz recordações, traz à tona a gargalhada e o choro, daquilo que ali dentro se guardou.