sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Cabana

O céu estava lindamente estrelado, fazia muito frio naquela noite, apenas a fogueira me aquecia. Ter saído para caminhar na floresta, sem mapa, sem guia, foi uma péssima ideia. Meu corpo estava cansado e dolorido, mas sabia que logo amanheceria e o sol voltaria a aquecer minha pele.
Estava encolhida numa árvore a espera do amanhecer, quando ao longe vejo uma luz, resolvi me levantar e tentar chegar até lá, afinal poderia ser uma cabana ou alguém que saberia me tirar daquele lugar.
Ao chegar próximo ao local da onde vinha a luz tive certeza que meus instintos estavam corretos, era mesmo uma cabana. Vagarosamente para não assustar um possível morador me aproximei da cabana e bati levemente na porta em busca de abrigo para aquela noite gelada.
Quem atendeu ao meu chamado foi uma senhora de cabelos brancos, sua face parecia sofrida e séria, mas fui recebida de maneira muito gentil e educada.
Relatei a ela o ocorrido e ela me ofereceu uma xícara de chá bem quente para me aquecer, prontamente aceitei sua oferta.
Na cabana havia poucos móveis, todos muito rústicos. A gentil senhora chegou com o chá, sentou-se ao meu lado e logo iniciamos uma deliciosa conversa. Minha curiosidade estava aguçada e então perguntei qual era sua história, porque vivia tão isolada e solitária naquela cabana no meio de uma floresta, sem nenhum recurso. Ela me relatou que vivia ali com o marido, que era lenhador, nunca conseguiu ter filhos, por isso viviam sozinhos, mas bem, até que inesperadamente ele adoeceu. Nesse momento sinto que seu semblante ficou sério e de certa forma sombrio. A doença, segundo a senhora, avançou rapidamente deixando seu esposo cada vez mais instável, ele vivia momentos de lucidez e outros de total insanidade, até que um dia a esfaqueou e cortou a própria jugular. Senti minhas pernas ficarem bambas, minha visão ficou turva, mal conseguia ouvir o que ela falava.
Senti uma grande claridade em minha face, abri os olhos e percebo que estou deitada no meio da floresta, o dia já amanheceu. Ainda zonza me levanto lentamente, não consigo me lembrar de como fui parar lá novamente. Será que falei ou fiz algo que fizesse aquela mulher me expulsar de sua casa? Olho ao redor e não consigo achar a cabana, mas percebo que ao meu lado no chão tem um papel velho, um pouco amassado, abro e vejo que é um mapa. Com grande dificuldade consigo me localizar no mapa e acho o local onde estava acampada com meus amigos.
Ao me aproximar do acampamento, estão todos agitados, inclusive alguns guardas florestais estão por lá. Sou recebida de forma calorosa por meus companheiros e pelos guardas, estavam todos aflitos com meu sumiço.
Após ser atendida pelos guardas e me reestabelecer pergunto a eles sobre a cabana da floresta, se eles sabem quem é a pessoa que mora lá. Eles se entreolham e me falam que naquela cabana vivia um casal de lenhadores, mas que o marido enlouqueceu e se matou após ter matado sua esposa.
Senti que iria desfalecer. Como era possível não ter ninguém morando naquele local? Eu conheci a senhora, tomei chá com ela e ouvi sua história, não estava alucinando, como seria possível eu saber da sua história e ainda por cima ter ganhado um mapa dela? Mostrei o mapa para o guarda e perguntei se ele tinha certeza que o local estava abandonado, se não haveria alguma pessoa da região que estava morando lá? Eles me garantiram que faziam a ronda a cada quinze dias no local e tinham certeza que a muitos anos a casa estava completamente vazia. Nesse momento eu não questiono mais nada, apenas deixo eles partirem.
Só tenho a agradecer a senhora que me ajudou num momento de grande dificuldade e risco de morte, esteja ela onde estiver.

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